Como identificar e tratar lipedema, doença confundida com obesidade | Finance Journal
Apesar de ser uma doença desconhecida pela maioria das pessoas, o lipedema é uma enfermidade que acomete entre 9% e 10% das mulheres adultas do país, o que soma cerca de 5 milhões de brasileiras. Conhecido também como síndrome da gordura dolorosa, é uma doença crônica caracterizada por depósitos de gordura desproporcionais pelo corpo.
O lipedema acomete os membros, em especial as pernas, e é bilateral, ou seja, atinge os dois lados ao mesmo tempo, causando inchaço e "furinhos". Por isso, o problema muitas vezes é confundido com obesidade e celulite. Além de ser bastante incômodo na questão estética, ele ainda provoca desconforto.
A gordura do paciente com lipedema é diferente daquela que temos no nosso organismo. "Ela causa dor, peso, muita sensibilidade ao toque e o surgimento de hematomas espontâneos e, em casos mais avançados, o mal pode evoluir para limitação da mobilidade física e danos no sistema linfático", explica o cirurgião vascular Sergio Belczak.
Quais as causas do lipedema?
Os especialistas ainda não sabem explicar exatamente o que causa o problema, mas já se sabe que há influência genética na maioria dos casos e que os hormônios femininos, como o estrogênio e a progesterona, são gatilhos para o seu desenvolvimento.
Por essa razão, 90% dos casos acontecem em mulheres e surgem normalmente quando elas passam por alterações hormonais, como o uso de anticoncepcionais, gestação, tratamento de infertilidade e menopausa.
Além do prejuízo físico, o lipedema pode desencadear problemas emocionais e psiquiátricos. Isso porque a paciente normalmente não consegue ter resultados com atividade física e/ou dietas, o que costuma deixar muitas pessoas frustradas ao não ver mudanças mesmo com bons hábitos de saúde.
"Mesmo as pacientes magras ou as que perderam muito peso mantêm o quadro de dor e deformação progressiva dos membros até o ponto de perder a capacidade de locomoção", diz o cirurgião plástico Fabio Kamamoto, pioneiro no seu tratamento e diretor do Instituto Lipedema Brasil, criado com o intuito de difundir informações sobre a doença.
Dificuldade no diagnóstico
Infelizmente, ainda não há um protocolo padrão para o diagnóstico da doença nem exames específicos para a sua detecção. Por isso, é muito importante que seja feita uma avaliação por um médico especialista no assunto que vai analisar o histórico familiar da paciente, como o mal se desenvolveu e fazer um exame físico para averiguar se existem nódulos, hipersensibilidade e perda de elasticidade do tecido adiposo, fatores que indicam que o quadro não está ligado à obesidade.
Tratamento
Assim que a paciente consegue o diagnóstico, ela é acompanhada por uma equipe multidisciplinar com endocrinologista, ginecologista, nutricionista, cirurgião vascular, cirurgião plástico, psicólogo e psiquiatra, entre outros.
O indicado é que a paciente evite ganhar peso e faça exercícios de baixo impacto, de preferência com o auxílio de um profissional de educação física. As atividades realizadas na água são muito bem-vindas, pois, além de não causarem impacto, dão uma força para a circulação.
O trabalho de um fisioterapeuta também ajuda bastante. Ele pode utilizar técnicas como drenagem linfática, enfaixamento compressivo e uso de meias de compressão e botas pneumáticas para melhorar a circulação linfática e o retorno do sangue ao coração. As terapias de ondas de choque também podem auxiliar, pois favorecem a circulação e ainda quebram as fibroses formadas pela gordura.
Quando a enfermidade chega a um estágio mais avançado, o tratamento também pode incluir cirurgias. "Algumas medidas ajudam a melhorar os sintomas, mas, segundo o Consenso Americano de Tratamento de Lipedema publicado em 2021, a única técnica capaz de remover as células doentes é a operação", afirma o cirurgião plástico Kamamoto.
A alimentação é um capítulo à parte para quem sofre com lipedema. Não basta reduzir as calorias, é preciso investir em uma dieta que ajude a contornar todos os aspectos do problema.
"É indicado que ela seja anti-inflamatória, com baixo índice glicêmico, pois pode haver resistência à insulina. A alimentação deve ajudar a melhorar a retenção hídrica e recuperar o tecido conjuntivo", explica a nutricionista Adriana Kachani, que é colaboradora do Programa da Mulher Dependente Química do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, especialista em imagem corporal e transtornos alimentares.
A nutricionista costuma indicar a dieta mediterrânea, que é baseada no consumo de alimentos frescos e naturais, como azeite, frutas, legumes e cereais, já que ela conta com gorduras saudáveis, carnes magras e itens antioxidantes e anti-inflamatórios.
Alguns chás que aumentam a circulação e são anti-inflamatórios, o de cavalinha, hibisco e gengibre, entre outros, também ajudam, assim como a ingestão de colágeno, vitaminas, como C e A, e prebióticos e probióticos para melhorar a flora intestinal. "Restringir bebida alcoólica e produtos industrializados também é muito importante nesse caso", destaca Kachani.
Fonte: UOL
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